A Polícia: Entre a Ordem Pública e a Confiança dos Cidadãos em Portugal
Nos anos 80 e 90, a polícia em Portugal tinha um certo charme que hoje, por vezes, nos deixa com saudades. Era uma época em que os agentes pareciam saídos de um filme de acção, com os seus bigodes aparatos, óculos de sol à Top Gun e uma aura de autoridade que inspirava, simultaneamente, respeito e um certo temor. A PSP circulava nas suas viaturas brancas, que mais pareciam caixas de sapatos com rodas, e a GNR, sempre presente nas estradas, era o terror dos condutores que se atreviam a ultrapassar os limites de velocidade.
Mas a polícia dessa época não era só aparência. Havia uma relação peculiar entre os agentes e os cidadãos. Era comum ver um polícia a dar uma reguada num miúdo que se portava mal na rua, seguida de um “lá em casa, aviso já o teu pai!”. E pior do que a própria reguada era a ideia de chegar a casa e ter de enfrentar a ira dos pais. Hoje em dia, tal cenário seria impensável, mas, na altura, parecia fazer parte da ordem natural das coisas.
Claro que nem tudo era perfeito. Havia aqueles agentes que, com uma caneta e um bloco de notas na mão, pareciam estar mais interessados em preencher multas do que em garantir a segurança. E depois havia os “chicos-espertos” que tentavam negociar a multa com um sorriso convincente e um “então, sr. agente, não há maneira de resolver isto de outra forma?”. Algumas vezes, resultava; outras, era só um convite para uma multa ainda maior.
Hoje, a polícia enfrenta desafios bem diferentes. A sociedade mudou, as tecnologias avançaram, e a confiança dos cidadãos nas forças de segurança tornou-se uma questão central. Apesar de a maioria dos portugueses reconhecer o papel fundamental da polícia na manutenção da ordem pública, há ainda um caminho a percorrer no que diz respeito à transparência e à proximidade com as comunidades.
E se, por um lado, sentimos falta daquela figura imponente do polícia dos anos 90, por outro, é bom ver que a polícia de hoje está mais equipada, mais informada e, felizmente, menos dependente dos bigodes para impor respeito. Resta-nos esperar que continuem a evoluir, mantendo o equilíbrio entre a ordem pública e a confiança dos cidadãos. E, quem sabe, um dia, até voltem a usar os óculos de sol à Top Gun. Afinal, um pouco de estilo nunca fez mal a ninguém.
