Em Portugal, a doação de órgãos enfrenta limitações legislativas que impedem a colheita em certos casos, ao contrário de outros países com legislação mais abrangente. Segundo Cristina Jorge, presidente da Sociedade Portuguesa de Transplantação (SPT), a atual lei não permite recolher órgãos de doentes em cuidados intensivos em "fim de vida" sem possibilidade de recuperação. Tal mudança poderia aumentar em 30% a disponibilidade de órgãos para transplante.
Atualmente, a colheita só é permitida em dadores com morte cerebral ou após paragem cardíaca irreversível. O transplante de dador vivo é limitado, sobretudo ao rim. A especialista defende que, além de alterações na lei, é necessário reforçar equipas e recursos para aproveitar os órgãos colhidos.
Portugal tem uma taxa de aproveitamento de órgãos superior a 80% e é referência mundial em transplantação, graças ao empenho dos profissionais e à eficiência do sistema. Em 2024, o país registou um recorde histórico de órgãos colhidos e transplantes cardíacos (58) e renais (538). No entanto, as listas de espera continuam longas, com 19.000 doentes à espera de um rim.
Cristina Jorge alerta para a sobrecarga das equipas, que têm de acompanhar um número crescente de doentes transplantados. Sugere que o seguimento destes doentes poderia ser feito mais próximo das suas áreas de residência ou através de telemedicina, para aliviar a pressão sobre os profissionais.
Em Portugal, todos os cidadãos são considerados potenciais dadores de órgãos, exceto os que se inscrevam no Registo Nacional de Não Dadores (RENNDA). A especialista reforça a necessidade de manter o compromisso com a doação de órgãos e de reconhecer o trabalho dedicado das equipas envolvidas.